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Casa da Matrona: como aliar o plano de negócio à responsabilidade social

Por Diego Infanti – Já ouviu falar na Casa da Matrona? Imagine que você tenha o poder de voltar no tempo, mais precisamente para a casa dos seus avós. Como você descreveria essa casa? Certamente, se você tem mais de trinta anos, na sala teria aquela estante cheia de livros ou LP’s. Teria uma Tv de tubo que em nada lembra as tv’s ultrafinas dos dias de hoje. Canais? Só os abertos. E a Netflix?  Com muita sorte você teria um novo filme na “Sessão da Tarde” ou um vídeo cassete para ver filmes da locadora nos finais de semana. O Spotify, então, não existia nem em sonho. Antes o som ficava a cargo das vitrolas. Os aparelhos mais modernos da época eram 3 em 1: toca discos, rádio e toca fitas integrados num aparelho que lembrava um robô. O toca discos tinha até tampa de acrílico.

Na casa da maioria dos avós o ponto de encontro era a mesa da cozinha, sempre rodeada de gente esperando o almoço de domingo. As telas de celular davam lugar a conversa. E as crianças corriam no quintal desviando das roupas no varal ou se refrescando com mangueiras.

Proposta com gostinho de saudade

E aí, qual sensação ao lembrar de coisas assim? Nostálgico, não é mesmo? Pois foi essa a proposta de Ivan Alatxeve, um executivo de sucesso que deixou a vida corporativa para trás para montar um negócio que transporta os frequentadores para os anos 80 e 90, bem para a casa dos avós daquela época.

A Casa da Matrona, negócio que alia o plano de negócio com responsabilidade social homenageia a avó paterna do fundador: Yalange Matrona Trifon, imigrante vinda da Moldávia, sozinha aos 17 anos, durante a primeira guerra mundial.  

Ivan Alatxeve conta sobre o plano de negócio da casa da Matrona

Konteudos foi até a Casa da Matrona conhecer um pouco mais do espaço e conversar com Ivan Alatxeve. Ao longo da entrevista Ivan conta como a Casa da Matrona foi um “chamado” para empreender após mais de 30 anos no mundo corporativo. Além disso conta os desafios da jornada. A importância de se “descontruir” para se autoconhecer. Ainda mais quando a casa da Matrona aposta em um modelo de negócio mais igualitário entre quem operacionaliza o negócio e seus investidores.

Acompanhe!

Konteudos: Como surgiu a casa da Matrona?

Ivan Alatxeve: A vontade de empreender surgiu após ter Covid-19 em 2020. Foi um ano muito difícil pra mim. Tive 85% do pulmão comprometido e sofri complicações que restringiram a parte cognitiva que eu precisava para trabalhar.

Quando me recuperei totalmente, achei que não valia mais a pena a vida insana que eu levava. Decidi deixar meus 30 anos de carreira executiva no ramo do varejo de alimentos para trás e fazer algo que me desse prazer de verdade.

Foi assim que em outubro de 2021 a Casa da Matrona surgiu: da união de uma perspectiva de mundo nova, após ficar entre a vida e a morte, e a coragem de empreender vinda de uma experiência de mais de 1000 projetos no mundo corporativo.

Konteudos: Por que Casa da Matrona?

A origem do nome é uma homenagem à minha avó paterna que chamava Yalange Matrona Trifon. De maneira que demos o nome de casa da Matrona devido a resiliência que minha avó teve ao chegar ao Brasil.

Ela veio da Moldávia durante a primeira guerra, sozinha, com 17 anos. Passou por três Estados: Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. Nesse último, ficou e construiu família.

Konteudos: Como foi essa transição?  Sair do mercado corporativo para empreender?

Ivan Alatxeve: Foi desafiador, pois só tive coragem de empreender com a Casa da Matrona depois de pegar a Covid-19 e passar por uma grande transformação. Acredito que as grandes transformações vêm após um período de “caos”, no qual você acaba se descobrindo e colocando em prática o seu propósito.

Eu tinha a Casa da Matrona no coração e brinco que estava fugindo desse “chamado”. Ela foi uma resposta a esse caos que vivi.

Entretanto, na Casa da Matrona quis implantar um conceito diferente, principalmente para quem ajuda a operar o empreendimento.

De início fiz o estudo de viabilidade do negócio. Após comprovar a viabilidade técnica me fiz a seguinte pergunta:  É possível criar a Casa da Matrona distribuindo grande parte do lucro?

A partir desse conceito formatei o projeto e então fui atrás de investidores. Com isso montamos um fundo privado de investimento. No momento em que conseguimos captar recursos suficientes para o aluguel do galpão, demos início a ao negócio.

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Konteudos: Como funciona o modelo de negócio? O que ele possui de diferente dos demais empreendimentos?

Balcão lembra os bares e lanchonete dos anos 80

Ivan Alatxeve: O modelo de negócio da Casa da Matrona é muito parecido com o modelo das Startups. Principalmente porque somos amparados pela lei das startups que protege o investidor, o isenta de responsabilidade legal ou operacional sobre o negócio e lhe reserva o direito aos dividendos.

São 12 investidores inicialmente. Cada um recebeu uma cota de investimento, Porém, no modelo de negócio da Casa da Matrona, todo investidor que entrou no negócio teve de aceitar distribuir uma parte do seu lucro com quem trabalha na casa. O nosso pedido foi para que os investidores topassem distribuir 50 % do lucro, pois temos uma visão de igualdade entre investidor e operação. A gente entende que não há negócio sem investimento, mas também não há fomento sem operação.

Konteudos: Quais negócios a Casa da Matrona abrange?

Ivan Alatxeve: A Casa da Matrona começou como uma taberna familiar noturna, de quinta à sábado, para avaliarmos como seria a aceitação do público. Nesse modelo conseguimos chegar quase ao ponto de equilíbrio., o que nos deu segurança para iniciarmos os novos negócios que a casa da Matrona abrange atualmente.

Hoje, além da taberna, temos o negócio de Cafés Especiais e a cervejaria Zé Carroceiro, que é formada por 2 amigos nossos que são mestres cervejeiros, fabricam a cerveja e vendem para a Casa Matrona. Eles são responsáveis apenas pelos custos de água e luz consumidos na fabricação da cerveja. Toda a infraestrutura é fornecida pela Casa.

Então, por enquanto, temos a Taberna, o negócio de Cafés Especiais e o Zé Carroceiro. Mas em breve, lançaremos o e-Commerce de cafés especiais, da cerveja que envolverá a produção do Zé Carroceiro com a operacionalização da Casa da Matrona e uma cafeteria e um espaço de coworking que funcionarão de segunda à sexta, durante o dia.

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Konteúdos: Existe alguma exigência para cotistas e empreendedores operacionais fazerem parte da Casa da Matrona?

Ivan Alatxeve: Sim. Para ser investidor/cotista é fundamental aceitar realizar a divisão dos lucros. E para quem quiser operacionalizar um negócio dentro do espaço, precisa operacionalizar algo que tenha sinergia com os negócios já existentes sob a gestão da Casa da Matrona.

Konteúdos: Qual o público-alvo da Casa da Matrona?

Lounge da casa da Matrona

Ivan Alatxeve: A Casa da Matrona se posiciona como casa, pois há o conceito de acolhimento, tanto de pessoas quanto de negócios. Logo, contamos com um público diverso, mas com interesses específicos. 

Konteudos: Como surgiu a decoração do espaço? Você já tinha esses objetos ou contratou profissionais para pensar nessa atmosfera de casa da avó?

Ivan Alatxeve: Muitas das coisas que estão aqui são minhas, eu tinha guardado, sou colecionador de objetos antigos. Outras coisas fui adquirindo com o passar do tempo.

Konteudos: Qual o maior desafio para fazer acontecer a Casa da Matrona?

Ivan Alatxeve: Não tenho dificuldade em conceber um plano de negócio. Entretanto, montar esse plano foi um grande desafio por conta do déficit cognitivo adquirido como consequência da Covid.

Além disso, vencer o medo foi bastante desafiador, pois mesmo que você tenha a convicção matemática e de inspiração que o negócio vai dar certo, nunca é uma certeza até sair do papel.

Outra dificuldade foi conseguir um imóvel que abrangesse o conceito da Matrona. O galpão no qual a casa da Matrona está instalado atualmente precisou ser todo remodelado.

Inicialmente, quando o projeto ainda era um desenho, o espaço da Matrona era em uma casa realmente, até para endossar o conceito. Mas no lugar de uma casa veio um galpão, e para adaptar o conceito para um galpão e reformar o espaço foi muito mais dinheiro do que o previsto inicialmente no plano de negócio.

Konteudos: Para fazer a Casa da Matrona sair do papel do jeito que está hoje, quanto custou aproximadamente?

Ivan Alatxeve: Até o momento houve um investimento de um pouco mais de R$1 milhão de reais para implementar. Mas iniciaremos uma nova rodada de captação de recursos porque ainda existem cotas disponíveis para novos investidores.

Konteudos: Qual é o perfil do investidor para esse modelo de negócio?

Ivan Alatxeve: A princípio cometi um erro. Encontrei pessoas que queriam empreender, mas não tinham o perfil de empreendedor que a Casa da Matrona demanda. Não existia a troca de conhecimento e experiências. Eram investidores que buscavam aportar o dinheiro e extrair resultados, deixando um pouco de lado esse papel colaborativo e social.

Nessa época fiquei bem decepcionado e durante uma conversa com meu psicólogo tivemos o entendimento que esse modelo de negócio não ia dar certo com esse grupo de pessoas. A partir disso, tomei a iniciativa de fechar a Casa da Matrona durante um período no fim do primeiro semestre de 2021. Quase um ano depois, reabri com amigos me ajudando a operacionalizar o negócio.

Uma das coisas que me chamou atenção nessa “reabertura” foi que todos os amigos que vieram ajudar eram empreendedores que já tinham passado por essa jornada de empreender, o que me ajudou a entender o perfil de investidor que precisava buscar. Em suma, pessoas que já tivessem empreendido ou que desejassem empreender com um propósito além da própria subsistência. Com uma visão de médio e longo prazo, pois está investindo seu tempo, conhecimento e dinheiro para que o negócio exista.

O caos que me fez fechar a Casa da Matrona uma vez foi o mesmo que fez surgir o entendimento de que tipo de perfil de investidor a Casa da Matrona precisava.

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Konteudos: Como funciona o Marketing digital para a Casa da Matrona?

A decoração da Casa da Matrona

Ivan Alatxeve: Além do Instagram, contamos muito com os frequentadores para divulgação da Casa da Matrona, até porque não temos ainda uma verba específica para fazermos publicidade paga. O que nos ajuda bastante também são as avaliações positivas nos sites de busca.

Lições de empreendedorismo

Konteúdos: O que você aprendeu ao empreender?

Ivan Alatxeve: Acima de tudo, estar aberto para desconstruir vários conceitos. Por exemplo, a sua crença pode ser uma âncora positiva ou negativa. Positiva quando na hora da tormenta ela te mantém firme. E negativa quando ela te deixa estagnado sem perceber os sinais para evoluir.

Eu aprendi que preciso desconstruir para evoluir. Reconhecer os erros e acertos.  Saber ouvir e ser democrático.

Konteúdos: Como é a gestão de pessoas e liderança dentro da Casa da Matrona?

Ivan Alatxeve:  Quando montei a Casa da Matrona, em um primeiro momento idealizei algo que não existe. O que há são pessoas com perfis totalmente diferentes. De modo que pessoas se inspiram em outras pessoas. Não é uma relação de comando e controle e sim uma ordenação, como um organismo. Há uma gestão colaborativa, mas é preciso ter alguém que inspire e direcione esse organismo, por conta dos perfis.

Konteudos: Em quais aspectos você acredita que evoluiu tanto do lado pessoal quanto empreendedor com a jornada da Casa da Matrona?

Ivan Alatxeve:  De início idealizei um panorama que não se confirmou. E ao longo do processo ajustei minha visão. Com isso entendi de que forma a justiça social pode existir dentro da Casa da Matrona. Ao longo do tempo tive que me desconstruir. Fazer as mudanças necessárias e acabar com o idealismo.

Konteudos: Quais dicas você daria para quem deseja empreender?

Ivan Alatxeve Antes de mais nada: se conheça, entenda o motivo pelo qual você deseja empreender. Caso o empreendimento seja encarado como uma fuga por você estar descontente, provavelmente o negócio não vai dar muito certo.

Além disso é importante realizar uma análise de perfil para saber se você é a pessoa da gestão ou tem um perfil de operação, pois vivemos um tempo que é mais vantajoso somar esforços e complementar perfis do que treinar aquilo que você não é bom. Da mesma forma é importante entender o propósito e a viabilidade do negócio.

Cafés especiais: Um dos diferenciais da Casa da Matrona cai no gosto dos brasileiros

A máquina de torra para cafés especiais

De acordo com um levantamento realizado pela Federação dos Cafeicultores do Cerrado em 2021 aponta um crescimento anual de 15 % no consumo de cafés especiais pelo brasileiro. Esse tipo de café se diferencia do tradicional devido a graduação Segundo a Metodologia de Avaliação Sensorial da SCA (Specialty Coffee Association), usada no mundo todo, o café especial precisa atingir no mínimo 80 pontos em uma escala que vai até 100 pontos. São avaliados quesitos como: aroma, sabor, ausência de defeitos, harmonia, acidez, finalização entre outros.

Do mesmo modo a pesquisa “Perfil do consumidor de café que busca qualidade” realizada pela Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC), realizada no segundo semestre de 2021, dividiu os respondentes da pesquisa em 3 grupos diferentes: especialistas, entusiastas e público geral. A pesquisa demonstra que os maiores consumidores de cafés especiais são os especialistas com 59% da faixa deste grupo. Em segundo lugar de maiores consumidores de cafés especiais estão os entusiastas com 21%. O público em geral demostra apreço pelo café especial em 10% do seu grupo de respondentes.

Dados como esses demonstram que o café especial, embora ainda pouco conhecido do grande público, tem grande possibilidade de cair no gosto do brasileiro nos próximos anos.

Quer conhecer a Casa da Matrona anote o endereço: Rua Inhangapi, 275 / 281, Vila Zelina, São Paulo e siga no Instagram: @casadamatrona.

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7 Comments

  1. A casa da MATRONA foi idealizada por uma pessoa ímpar e isso faz toda a diferença, o Ivan é genial. A casa é simplesmente a melhor casa da região, a decoração sempre me chama muita atenção e gasto bastante tempo olhando tudo que tem por lá pendurado nas paredes e armários. Lá temos também um rango delicioso e um atendimento mega humanizado, simpático e colaborativo. É muito bom poder frequentar a casa e ser sempre bem recebido.

  2. A proposta inteiramente inovadora aliada ao ambiente retrô, tudo isso somado a um atendimento atencioso e produtos de qualidade. É como eu vejo o espaço da Casa da Matrona, talvez o único no gênero. Uma proposta que deveria ser adotada por mais empreendedores por estar imbuída de cunho social. Desejo que o negócio prospere e, quem sabe, no futuro possam ter novas unidades…

  3. Um lugar descontraído, agradável, pessoas maravilhosas, para toda a família!!!!

  4. Além de lembrar da casa da vó tem a energia boa

  5. Além de trazer de volta a boa lembrança da casa da Vó tem a boa energia.

    Além da boa breja e comida tem gente do bem.

    1000% recomendável

  6. Foi uma honra pra gente receber vcs, parabens pelo profissionalismo Diego, obrigado por ter nos encontrado Kelly.

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